ISSO MESMO!!! ESTÁ DISPONÍVEL MAIS UMA EDIÇÃO HISTÓRICA DO ANORMAL ZINE !!!
E se você gostou do Anormal Zine Ultra Deluxe Maximum Premium Anthology e imaginou que a nova edição seria igual, SE FUDEU TOTALMENTE!!!
Lamentamos, mas uma das premissas do AZ é destruir expectativas, sendo assim:
O AZ 11 É COMPLETAMENTE DIFERENTE DOS ANTERIORES, CONFIRA:
NÃO, NÃO. O QUE VOCÊ VÊ ACIMA NÃO É UMA CAMISA IMPRESSA NA FRENTE E NAS COSTAS. É UM ESPETACULAR FANZINE DE DUAS PÁGINAS!!! O PRIMEIRO FANZINE EM FORMATO CAMISA DE QUE SE TEM NOTÍCIA! TUDO QUE VOCÊ APRENDEU A AMAR (NA MARRA) ESTÁ LÁ: HQs, TEXTOS, MONTAGENS E LOUCURAS DIVERSAS.
AGORA O ANORMAL POSSUI AINDA MAIS FUNÇÕES: FANZINE, VESTIMENTA, PANO DE CHÃO, ETC. PEÇA LOGO O SEU NO wnyhyw@gmail.com
É, o Reboco Caído completou um ano de circulação underground afora. A impressão é de que esse zine tem muito mais tempo de existência, tamanha é a sua atuação e relevância do material lançado nesse período. Sendo assim, a edição de nº 8 é uma coletânea aleatória de diversos contos, poemas, entrevistas, idéias, montagens e HQs publicadas nos números anteriores. Excelente oportunidade para quem ainda não conhece. Para quem conhece, vale guardar essa edição especial.
Dois zines de leitura rápida estão circulando por aí. Mas não se engane: nesse caso consumo rápido não quer dizer porcaria, são obras de excelente conteúdo. Pra ler e reler:
O KHNEIRA ficou um bom tempo sem mostrar as caras, mas agora reaparece em sua 9ª edição. Zine muito hilário com HQs, desenhos e montagens do DOLA. Vale a pena conhecer.
Já o JANELA PODEROSA segue como um dos mais regulares zines da atualidade. A parada já está no nº 10. Esta edição é uma entrevista com o ilustrador Hugh Syme, consagrado principalmente por seu trabalho junto ao Rush. Mas não é uma entrevista convencional, segue aquele padrão absurdamente criativo e inovador que já foi comentado aqui no blog. Um deleite visual e sempre ótima leitura.
Acho
que não há mais nada a ser dito, mas continuo.
Capítulo
1030
Minha
vida é assim. Pela metade. E com erro de cálculo.
Cap.
2062
Uma
vez fui num sarau. Vários poetas declamaram. Todos falavam muito bem. Eram
expressivos. Receberam muitos aplausos. Tive muita inveja aquele dia.
Cap.
2063
Adoro
cozinhar. Hoje fiz um risotto à milanesa sensacional. Vou passar a receita pra
você.
Ingredientes:
400
gramas de arroz
80
gramas de manteiga
1
litro de caldo de carne
1/2
cebola média
1
sachê de açafrão
1/2 taça de vinho branco seco
60
gramas de parmesão
sal
a gosto
Inicialmente,
pique a cebola e coloque para dourar em fogo brando com metade da manteiga.
Acrescente o arroz e refogue por 2 minutos, mexendo sempre. Banhe com o vinho e
deixe evaporar em fogo alto (mais ou menos 2 minutos). Com uma concha, vá
acrescentando aos poucos o caldo de carne temperado com sal, que deve estar
sempre quente, quase em ponto de fervura. Deixe cozinhar por 12 minutos mexendo
de vez em quando e, à medida que o arroz for absorvendo o caldo, acrescente
mais. Misture o açafrão em um pouco de caldo e derrame no risotto, misturando
bem para tingí-lo uniformemente de amarelo. Acrescente rapidamente o restante
da manteiga e o parmesão para que escorra por todo o arroz. Misture mais uma
vez com força e sirva imediatamente. O segredo do risotto está no arroz. Tem de
ser um arroz de qualidade, isso é fundamental. Deve liberar amido suficiente,
durante o cozimento, para juntar os grãos sem grudá-los. Eu prefiro o italiano.
Seu tempo de cozimento deve ser de 16 a 18 minutos. Importante: os grãos não
devem ser lavados, para que mantenham maior quantidade de amido e, portanto,
seu poder de absorção. O produto utilizado e as adições constantes de caldo e
mexidas esporádicas resultam em um saboroso prato de consistência cremosa.
Depois da janta eu assistia TV quando o telefone tocou. Era minha filhotinha.
“Ei, papai”. Coisinha mais linda. Aguardo ansioso o sábado, pra passar todo o
dia com ela. A cada dia mais linda e inteligente. Vejo um grande futuro pra
essa menina. Eu darei tudo que ela precisar. Tudo.
Cap.
2064
Não
posso reclamar da sorte. Tenho muita sorte. Eu acho.
Cap.
2065
Ela
diz que sou um grande amante. A mãe da minha filha também comenta isso. Até
hoje. Vive me dando cantadas sutis. Não acredita quando digo que estou com
outra.
Cap.
2066
Tenho
minhas qualidades.
Cap.
2067
Foi
um dia bem curioso. Primeiro, fomos visitar os pais dela. Odeio os pais dela,
mas ela disse que era um almoço importante, alguém tinha alguma novidade pra
contar. No evento estavam também o irmão dela com a namorada, e as duas irmãs
com os respectivos maridos e respectivos bebês. Uma família comum e monótona.
Trocamos blábláblás diversos enquanto degustamos uma boa macarronada, até que o
pai dela enfim anuncia o casamento. Era só o que me faltava. Ela vibra com a
notícia, solta um sorriso radiante, abraça muito o irmão. Muito feliz pelos
dois, estão fazendo a coisa certa. Pronto, agora ela vai querer casar também.
Não vai aceitar ser a única solteira da família. Só o que me falta. Passamos o
resto da tarde reunidos. Conversamos futilidades. Agora só eu ali não pertenço
oficialmente à família. Sou um sujeito paciente e educado, um bom namorado
afinal, suportei aquilo até o início da noite. “Já é tarde, melhor eu pegar meu
ônibus pra casa”. Ela me acompanha até o ponto, são alguns bons quarteirões
dali. Sugere uma caminhada pela praia. Não recuso, sou um namorado educado.
Passeamos pela areia em silêncio. Ela, tão faladeira, nunca fica em silêncio.
Sei o que está pensando. Logo vai jogar indiretas sobre o casamento da irmã,
como aquilo tudo é bonito e tal. No entanto, quando finalmente fala, as
palavras são surpreendentes: “Vi seu
caderno.” “Que caderno?” “Um de capa rosa. Estava junto com os cadernos da
escola que você me emprestou. Você deve ter misturado sem querer.” Não digo nada,
apenas olho em linha reta enquanto caminhamos. “Não sabia que você escrevia”.
Dou de ombros. “Todo mundo escreve hoje em dia. Qualquer inútil tem um blog.
Porque eu também não deveria escrever?” Ela dá uma boa risada. “O que é? Um
romance? Aquele caderno começa no capítulo 1019 e vai até o 1250”. “Não é um
romance. É um diário”. Alguns segundos de pausa. “Um diário... então aquilo
tudo é real...” O humor dela muda. Seriedade. “A maior parte sim, mas alguns
capítulos eu inventei”. Finalmente olho pra ela, virada pra areia, expressão
indecifrável . “Você escreveu tudo isso? Mais de 1000 capítulos?” “Nem todos.
Alguns eu deixei apenas na mente. Os outros estão espalhados em cadernos
diversos, e também na internet”. “Escreveu sobre mim?” “Claro. Não seria meu
diário se não falasse sobre você. O capítulo 1600 narra o dia em que nos
conhecemos”. Voltamos ao silêncio. Ondas ricocheteiam na orla. Adoro a praia
durante a noite. Essa quietude, apenas o som do mar. Uma repentina vontade de
mergulhar nessas águas enegrecidas pelo crepúsculo. Ficar lá, boiando, deixar a
maresia me levar. Ela não diz mais nada, está ainda mais séria e reflexiva. Ela
que nunca fica séria. Não tento mais ler seus pensamentos. “Melhor voltarmos
pra rua. Meu ônibus irá passar em 5 minutos.”
Cap.
2080
A
escrita iniciou juntamente com a esquizofrenia. Antes escrevia mais, madrugadas
inteiras. Acho que, inexoravelmente, a preguiça é parceira do tempo.
Inexoravelmente. Sempre quis usar essa palavra. Não sei se foi adequado.
Cap.
2081
Não
sou muito inteligente, mas pelo menos assumo isso. Esses esnobes da escola são
tão ignorantes quanto eu, a única diferença é que eles falam bem, eles sabem
enganar. Se são tão inteligentes e cultos, porque estão fazendo Supletivo? Eles
pensam que vão formar antes de mim, mas não vão. Logo completo o médio e vou
pra faculdade. E aí serei advogado. E aí vou ferrar com todos eles.
Cap.
2082
A
televisão está falando de novo sobre o cara que caiu do viaduto. O nome dele
era Carlos Aldrecht. Estudante de educação física. Muita gente foi no enterro.
Tinha muitos amigos. Uma filha de quatro meses. Tinha sonhos. Tinha um pai e
uma mãe que choram sem parar. Todos gostavam muito dele. Segundo o repórter,
uma testemunha viu o Carlos ser empurrado lá do alto. Mas não é possível.
Estava tão escuro aquele dia, como pode ter visto?
Cap.
2083
Depois
de dois litros, era tudo tão bonito.
Cap.
2084
Algumas
coisas não deveriam ser ditas. Ou escritas. Isso é um erro.
Cap.
2085
A
tia do 1003 às vezes senta na entrada do prédio com seu Yorkshire e fica ali,
sentada, vendo o movimento, o dia morrer. Velha inútil. Lembro com profundo
pesar de quando eu também era um inútil. Quanto tempo perdi. Talvez eu devesse acordar
a velha.
Cap.
2086
Quando
comecei a escrever passei a refletir sobre coisas que fiz. Se realmente deveria
ter feito. Também penso naquilo que talvez eu devesse ter feito e não fiz.
Cap.
2087
O
não feito é muito doloroso. Mas agora é diferente. Não deixo mais as coisas por
fazer.
Cap.
2088
Não
sou um bom escritor, admito. Nem tenho pretensão de ser.
Cap.
2089
Gosto
de assistir TV. É relaxante. Só não vejo novela. Minha mãe acompanhava todas.
Falava que um dia nós teríamos uma casa bonita como aquelas da novela. Minha
mãe está morta. Enterrada no cemitério mais bonito da cidade.
Cap.
2090
A última garota que estuprei foi bem frustrante. Ela não depilava. Fiquei puto e
acabei broxando. Fui embora, mas dei uma boa bronca nela. Que isso não se
repita mais.
Cap.
2091
Por
favor, aplaudam. Preciso melhorar minha auto-estima.
Cap.
3
Entendeu
agora? Não podemos apenas viver o presente. Nem ficar pensando apenas no
futuro. É necessário frequentemente reescrever o passado.
Cap.
2
Não
consigo. Apenas fecho os olhos.
Cap.
2092
Deus
não comete erros. Então aquilo era certo. Se aconteceu, é certo. Se fosse
errado, Deus não deixaria acontecer. Sou feliz afinal. Consciência tranqüila.
Cap.
2093
Eu
não acredito. Não acredito em felicidade. Por quê, Deus? Por que nunca sei o
que fazer?
Cap.
2094
Ela
disse que me ama. Como pode me amar? Será alguma maluca? Não posso amar uma
maluca. Mas devo. Uma nova esperança pra mim. Mais uma.
Cap.
Final
Boa
noite, ainda que seja dia.
Cap.
2095
Lembrei
de uma coisa importante. Não... não é tão importante assim. Deixa pra lá. Vou pra cozinha, preparar uma boa bacalhoada.
Há um bom tempo estava querendo fazer um post sobre o 1° filme do Conan. Agora que saiu mais um, é a oportunidade para tecer alguns comentários sobre a trajetória do bárbaro no cinema. Então vamos lá.
Conan foi criado em 1932 por Robert Ervin Howard, um dos
precursores do gênero espada e magia. Suas aventuras foram publicadas na
revista “pulp” Weird Tales por quatro anos, e chamaram a atenção pelo talento
literário e imaginação fértil de Howard. Além dos elementos épicos, Howard
incrementava suas histórias com pitadas de erotismo e horror, que lhes dá um
diferencial ainda hoje em relação a outras obras do gênero. Um dos
correspondentes com quem trocava idéias era simplesmente H.P. Lovecraft, o
mestre do terror, e cada um influenciou decisivamente a obra do outro. Howard
ainda realizou uma acuradisima pesquisa histórica para ambientar suas
aventuras. O mundo de Conan, batizado de Era Hiboriana, é um exercício
imaginativo de como poderia ter sido o mundo há 12.000 anos. A terra natal de
Conan é a Ciméria, que corresponderia ao que hoje seriam os países
escandinavos. Infelizmente a carreira de Howard durou pouco. O escritor faleceu
em 1936, aos 30 anos de idade, apenas 4 anos depois de criar seu personagem
mais popular.
Mas conan sobreviveu. Anos mais tarde, escritores como L.
Sprague de Camp e Lin Carter continuaram a saga, criando novas epopéias do
cimério e reescrevendo contos inacabados deixados por Howard. Ao longo das
décadas vieram vários romances e coletâneas que chamaram a atenção do então
editor-chefe da Marvel Comics Roy Thomas. Este sugeriu ao chefão Stan Lee que o
personagem fosse transportado aos quadrinhos. Lee aprovou e assim, em 1970,
nasceu a revista Conan The Barbarian, que logo se transformou em um fenômeno de
vendas. O sucesso provocou o lançamento de mais um título, Savage Sword of
Conan, mais voltado para o público adulto e que se tornou ainda mais popular ao
trazer adaptações dos contos originais de Howard. Em toda a jornada de Conan
pela literatura e quadrinhos, há que se destacar os geniais ilustradores que
retrataram seu universo: Frank Frazzeta, Barry Smith, Jonh Buscema, Earl Norem,
Alfredo Alcala, Tony de Zuniga, Joe Jusko, entre outros.
Tamanha popularidade motivou a produção de um filme. Conan,
o Bárbaro (CB). Lançado em 1982, produzido por Dino de Laurentiis, com
direção de John Millius, roteiro de Millius e do novato Oliver Stone, e
estrelado pelo então desconhecido Arnold Schwarzenegger, o filme foi aclamado
pelo público, e catapultou de vez o bárbaro para o estrelato.
O que se tornou marcante em CB é que, assim como os contos
de Howard iam além de uma mera história de fantasia, o filme foi também uma
obra inteiramente autoral de Millius, e conseguiu ir muito além dos clichês
esperados de um filme de ação.
As histórias de Howard, de maneira geral, foram construídas
sob uma espinha dorsal que consiste no interrelacionamento de três elementos: o
conflito humano, feitiçaria e monstros. O argumento básico é Conan se meter em
alguma intriga envolvendo nobres e bandidos de todo tipo e, no decorrer dos
acontecimentos, se deparar com feiticeiros sedentos de poder, criaturas
monstruosas despertadas de seu sono ancestral e cidades misteriosas esquecidas
pelo tempo. Devido a seu talento literário e capacidade criativa, Howard
conseguiu criar excelentes histórias a partir desse argumento. Poucos, ou
talvez ninguém, depois dele, conseguiu realizar obras do mesmo nível neste
gênero.
Millius percebeu que deveria criar um filme épico, e a seu
modo, conseguiu transportar para o cinema o espírito da saga original. Em CB
temos um trabalho de fotografia exuberante, cada cena parece ter sido
milimetricamente planejada e construída para formar uma sequência de imagens
marcantes, como um conjunto de fotografias que vão sendo armazenadas na memória
do espectador e criando um álbum inesquecível.
Uma característica importante vista em vários contos de
Howard é uma grande ênfase em personagens secundários, muitos deles figuras
mais realistas que contrastam com a imagem do homem idealizado que Conan
representa. Millius também resgatou com competência esse aspecto, os
coadjuvantes aparecem com destaque ao longo do filme. Até as pequenas
participações foram incisivas, como a de Max Von Sydow no papel do Rei Osric.
Este cuidado com as interpretações resultou em ótimas atuações, principalmente
no notável Thulsa Doom encenado por James Earl Jones.
Claro que Millius cobrou um preço para fazer uma obra de tal
beleza cênica, que foi descaracterizar a concepção original do cimério. O Conan
dele é mais dramático, reflexivo e disciplinado. O Conan de Howard é mais
brutal, arrogante e desenvolto. Conan na verdade jamais aceitaria a vida de
escravo, como ocorreu em CB, preferindo a morte. De fato, em CB ele tem
muito pouco de bárbaro. Toda esta licença poética de millius é inteiramente
perdoada, devido a grandeza de sua versão e por se tratar de um filme autoral
que justificou esse novo conceito.
Em CB, são poucas as cenas de batalha, a maioria dos
confrontos são sutis, há um destaque para choques de olhares, de expressões e
movimentos. Já o sobrenatural acontece de forma muito sutil, apenas com a
feiticeira da cabana e a transformação de Thulsa Doom em serpente, e o monstro
representado pela serpente gigante. Obviamente, naquela época não havia a
facilidade de hoje para se criar efeitos visuais, o que dificultava
malabarismos maiores em termos de cenas de magia e criaturas fantásticas.
Outro fator fundamental do filme são as diversas referências
a episódios ocorridos nos contos clássicos. Entre elas: a cena em que lobos
perseguem o bárbaro e ele se refugia em uma misteriosa caverna onde encontra o
esqueleto de algum rei ancestral; o episódio da crucificação, extraído do conto
A Maldição da Lua crescente (na qual faltou a cena clássica em que ele
mata um abutre com os dentes); e o retorno pós-morte de Valéria (inspirado na
pirata Bêlit, de A Rainha da Costa Negra). Outra referência são os
próprios nomes de alguns personagens, como os citados Valéria e Thulsa Doom.
Mas o grande destaque do filme é a magistral trilha sonora
esculpida por Basil Poledouris, sem dúvida uma das melhores da história do
cinema. Ela é a principal responsável por transmitir ao espectador a atmosfera
épica daqueles “dias de grandes aventuras”; conduzida de forma brilhante, com
variações e andamentos que se encaixam com precisão cirúrgica a cada momento da
epopéia.
Com a consagração de CB, não tardou para que os produtores
investissem em um novo filme, e em 1984 estreou Conan, o Destruidor
(CD). Dirigido por Richard Fleischer e também estrelado por Schwarzenegger, a
proposta deste foi bem diferente de CB. Enquanto o primeiro foi uma adaptação
autoral inspirada na literatura e com um direcionamento mais adulto, CD é uma
aventura de fantasia mais típica, mais voltada ao público infanto-juvenil. Mas
CD não é um filme ruim. Embora inferior ao anterior, é um bom filme de ação,
bastante divertido e com todos os elementos clássicos da espada & magia.
Se pensarmos nos dois filmes em conjunto, é interessante
notar como eles se complementam e formam uma retratação quase completa do
universo de Conan. CD traz aquilo que ficou um pouco de lado em CB, é um filme
com mais ação e o lado fantástico aparece com maior peso. Temos um combate
contra um real feiticeiro, Thoth Amon, e um monstro de verdade, o demônio
Dagoth.
A exemplo de CB, os personagens secundários foram
valorizados. Vemos vários tipos curiosos e engraçados, como a guerreira
Zula, adaptada dos quadrinhos e interpretada por Grace Jones, ou o mago Akira,
único remanescente do primeiro filme. Diferente de CB, em CD não há qualquer drama humano, as
interpretações são todas hilariamente canastronas, acentuando aqui o clima
descompromissado e descontraído que tanto marcou os filmes de ação dos anos 80.
Acertadamente, foi mantida a trilha sonora nas mãos de
Poledouris, que proporcionou mais um espetáculo à parte.
Fica um ponto negativo por não haver na história maiores
referências da saga original, como fez CB, a proposta foi mesmo mesmo contar
uma história mais básica, baseada em HQs escritas por Roy Thomas, que também
foi um dos roteiristas.
Desde então os conanmaníacos ficaram na expectativa de um
terceiro longa. Mas, apesar da crescente popularidade do personagem nos
quadrinhos, que chegou a ter várias revistas regulares simultâneas publicadas
pela Marvel, os anos passavam e o novo filme não se concretizava. Um dos
motivos era a inacessibilidade de Schwarzenegger, que havia se transformado na
maior celebridade mundial dos filmes de ação e assim estava sempre com a agenda
lotada. Infelizmente, a maioria dos produtores de Hollywood e dos fãs
acreditava que só ele poderia interpretar o cimério a contento. O medo de se
arriscar em um novo ator levava os projetos para a gaveta e os fãs ficavam
apenas com os boatos.
O tempo passou, o Governador do Futuro ficou velho e ainda
assim ele continuava sendo assediado para reencarnar seu primeiro papel de
destaque. Chegou-se a planejar Conan Rei, filme que traria um Conan mais velho,
na fase em que foi monarca da maior nação de sua era. Seria no mínimo
tragicômico o Arnoldão, praticamente aposentado, no papel de Conan, mas,
felizmente, quando o sujeito enveredou pra política, esse projeto foi
descartado, e finalmente os produtores cinematográficos perceberam que deveriam
buscar um novo ator.
Nos últimos anos, com a febre de versões cinematográficas
para personagens dos quadrinhos, não tardaria a acontecer o tão aguardado
terceiro filme.
E assim chegamos a 2011, quando, enfim, o “bárbaro maldito”
volta à tela grande.
Os pôsters foram bem chamativos e bem feitos, mas o trailer já demonstrava que não deveríamos esperar muita coisa. E não deu outra. Conan 2011 (C11) é bem fraco em todos os aspectos. Bem inferior
até mesmo ao CD, que dirá se o compararmos ao CB. E as comparações são
inevitáveis, pois a proposta de C11 é justamente apresentar uma nova versão
para o clássico de 1982. O título é o mesmo, o que a partir de agora vai gerar
uma eterna confusão na citação dos filmes (Pra mim Conan, o Bárbaro será só o
primeiro; este será Conan 2011). Os gênios de Hollywood, em sua infinita
preguiça criativa, optaram por recontar a origem do cimério na mesma linha
garoto-vê-pais-serem-assassinados-cresce-alimentando-desejo-de-vingança.
Já que se trata de um remake, o diretor parece ter sido
escolhido a dedo: ele é Michael Nispel, um especialista em refilmagens que não
acrescentam nada às franquias originais, responsável por Sexta Feira 13 (2009)
e O Massacre da Serra Elétrica (2003). Este último, especialmente, é um
atentado contra o clássico de 1974.
Para o papel do protagonista, a opção foi por um ator
desconhecido, a exemplo do que ocorreu em 1982, numa tentativa de revelar uma
cara nova para Conan. O que me parece acertado, pois seria difícil engolir
simplesmente o fortão da moda fazendo esse papel. O escolhido foi Jason Mamoa,
que anteriormente havia feito basicamente papéis para televisão.
C11 basicamente copia as idéias dos filmes anteriores. De CB
veio a idéia da vingança contra o homem que destruiu a aldeia natal. De CD, a
idéia do sacrifício da pura mocinha para despertar o mal adormecido e
conquistar o mundo. Há assim referências aos dois filmes. No início, a
sequência do ataque à aldeia remete a CB. No final, temos a cena em que um
ladrão ajuda Conan a invadir a fortaleza do vilão, lembrando CD.
O filme até inicia bem. Mostra o nascimento
de Conan em um campo de batalha, como nos conta a saga original. Ao invés de
leite, o bebê experimenta o sangue materno. Uma boa sacada. As sequências
iniciais do jovem bárbaro na Ciméria são aceitáveis. Os realizadores também
tiveram a feliz idéia de reproduzir, em todos os detalhes, a mesma espada
utilizada em CB, que é forjada pelo pai de Conan no início de ambos os filmes,
e ficou conhecida como A espada de Corin.
O problema é que logo o filme desanda para a pancadaria, sem
que os personagens tenham sido convincentemente apresentados, e as cenas de
luta passam a ser o único foco.
Não há história, não existe roteiro. As ações vão sendo
encadeadas de forma totalmente atropelada, sem qualquer ritmo ou coesão. É
aquele estilo desordenado de videoclipe que tanto irrita nas produções atuais
de Hollywood. Em certos momentos, temos boas imagens de cenários e paisagens
fantásticas. Mas essas cenas duram apenas frações de segundos, o espectador não
tem tempo de aproveitar qualquer possível imagem envolvente, pois tudo tem que
acontecer em velocidade de clipe pra dar tempo de serem despejadas na tela
lutas intermináveis. Nispel não entendeu que o conceito de Howard vai além da
mera pancadaria, há toda aquela sutileza de elementos de mistério, de horror e
de magia.
Apesar disso, o filme ainda consegue se segurar durante a
primeira metade. Temos alguns bons momentos no início da vingança de Conan e seu
encontro com a heroína Tamara. Mas se perde totalmente a partir do momento do
primeiro embate entre Conan e o vilão-mor Khalar Zym. Pouco mais do que nada
acontece a partir daí, a não ser um interminável e sonolento duelo de espadas
entre os dois. A única cena que quebra um pouco a mesmice é o confronto contra
a criatura de tentáculos no fosso da fortaleza do vilão.
É impressionante como C11 conseguiu sub-utilizar todos os
elementos essenciais desenvolvidos por Howard. Não há conflito humano, a magia
se resume à monótona cena em que a filha de Zym, Marique, cria guerreiros de
areia, e o montro é a criatura dos tentáculos. Aliás, se Marique é uma bruxa,
ou aspirante a, não dá pra entender por que ela não lança mais nenhum feitiço
durante todos os confrontos seguintes. Será que ela só sabia um truque? Bem,
melhor não tentarmos entender o complexo roteiro escrito por Thomas Dean
Donnelly e Joshua Oppenheimer e Sean Hood (Isso mesmo, foram necessários três
para desenvolver uma trama-nada). Quanto aos personagens secundários, são todos
uma lástima. O melhor amigo de Conan no filme tem uma participação tão medíocre
que nem me lembro seu nome; os vilões são insossos; todos os coadjuvantes,
inexpressivos.
Mas C11 possui pelo menos um grande mérito: o Conan
propriamente dito ficou bem fiel ao original. A imagem que temos é de um
verdadeiro bárbaro, mais parecido com o Conan de Howard do que nos outros
filmes. Selvagem, mas astuto; sanguinário, mas leal aos amigos; que despreza as
regras da civilização e segue seu próprio código de honra. Cheio de cicatrizes
de incontáveis batalhas. “Eu vivo, eu amo, eu mato. E estou satisfeito”. Essa
auto-análise do bárbaro incluída em um breve diálogo do filme foi extraída do
clássico A Rainha da Costa Negra. Infelizmente é uma das poucas
referências às obras clássicas. Mamoa não é nenhum mestre da interpretação, mas
consegue convencer como bárbaro. Creio que nas mãos de um bom diretor, ele
poderia tranquilamente continuar no papel em futuros filmes.
O grande engano de Nispel foi acreditar que bastava
apresentar uma imagem fidedigna do cimério para garantir o filme. Assim, ele poderia
dispensar direção e roteiro e empurrar a narrativa de qualquer jeito. Erro
grave.
Em suma, o grande problema de C11 é buscar o lucro fácil em
cima de um personagem famoso. Mas uma trama central simplista demais, erros de
continuidade abusivos e uma preguiça imaginativa absurda botam tudo a perder. E a
solução seria muito simples: porque simplesmente não adaptar um dos contos
originais de Howard? Qualquer um deles daria um ótimo filme. Ou então que se
contrate um dos escritores que o sucederam para desenvolver uma trama mais
elaborada. CB adaptou vários trechos dos textos originais e CD teve a participação direta
de Roy Thomas, um especialista em Conan. Já na nova película, parece que nenhum
conhecedor da obra de Howard foi consultado. Lamentável.
No final das contas C11 é válido se o considerarmos apenas
como uma reapresentação do bárbaro, uma forma dele chegar e dizer: “ei, eu sou
Conan, e estou de volta”. Nesse sentido, podemos ter alguma expectativa quanto
ao futuro. Novos filmes podem vir a seguir e, sem esse compromisso de contar
origem, podem surgir boas idéias.
Além do que, ruim ou não, um filme promove o resgate do
personagem, que gera outros produtos interessantes. Nesse embalo, A editora
Évora lançou o livro Conan, O Bárbaro. Ainda que seja uma obra
oportunista, como se percebe por ter o mesmo título e a capa ser simplesmente o
pôster do novo filme, o livro tem um conteúdo bem valioso. Traz alguns contos originais de
Howard que ainda eram inéditos no Brasil, além de sua única novela publicada, A Hora
do Dragão.
Também está sendo produzida uma animação, adaptação do
clássico Red Nails (Pregos Vermelhos). http://www.conanrednails.com/ . Pelas
imagens no site, não parece ser grande coisa, mas ao menos é alguma coisa.
WERWOLF é a nova empreitada do Ric Ramos, editor do Janela Poderosa. Este zine é o início de uma HQ sobre um excêntrico e irresponsável rockstar que, após mais uma noite inconsequente, vai ver tudo mudar...
Vamos aguardar os próximos capítulos pra saber o desenrolar dessa trama.
Felizmente, nem tudo foi censurado no RioFan
2011, festival de cinema fantástico que aconteceu mês passado no Rio de
Janeiro. Cabe então um post sobre alguns destaques do festival. Apenas um
relato breve sobre algumas boas obras que merecem ser vistas. O festival
apresentou vários outros filmes interessantes, muitos não pude assistir, o que
espero conseguir em futuras oportunidades.
A CHEGADA DE YURI LENNON A ALPHA 46 / YURI
LENNON’S LANDING ON ALPHA 46 Suíça/Alemanha, 2010. De Anthony Vouardoux.
A ficção científica é um gênero delicioso e
proporciona histórias que, se bem construídas, atiçam nossa imaginação e nos
levam a mundos fantásticos e situações incomuns, mas sempre guardando relações
diretas ou indiretas com a realidade. Este foi o melhor curta que presenciei no
festival. Uma história bem simples, mas muito criativa. Yuri Lennon é um
astronauta que descobre como, por vezes, uma simples ação pode trazer
imensuráveis conseqüências.
O OGRO
Brasil, 2011. De Márcio Júnior e Márcia Deretti. www.oogro.com.br
O Ogro é uma animação baseada em HQ desenhada por Júlio
Shimamoto, um dos maiores gênios dos quadrinhos brasileiros. A HQ foi
originalmente publicada na revista Calafrio em 1984, e marcou o lançamento de
uma nova técnica no uso do claro-escuro desenvolvida pelo Shima. Quem já viu e
curtiu as memoráveis ilustrações desse artista, certamente irá se emocionar em
ver seu trabalho ganhar movimento e sonoridade. E como se já não bastasse esse
momento mágico de ver tal arte projetada na tela grande, ainda tive a sorte de
ganhar um cartaz autografado, artefato que será sem dúvida eternamente
guardado. O filme ficou muito bem feito em todos os aspectos, essa iniciativa
merece muitos aplausos. O único defeito é ser muito curto, pois ficamos
querendo mais quando surgem os créditos. E esperamos que venham mais! Aliás,
fica a idéia para que outros clássicos dos quadrinhos nacionais sejam
adaptados, não só do Shimamoto, como dos diversos talentos espalhados por aí.
COMANDANTE TREHOLT E SUA TROPA DE NINJAS
Kommandør Treholt & ninjatroppen
Noruega, 2010. De Thomas Cappelen Malling. www.ninjatroppen.no
Uma bagaceira completamente sem noção
produzida por um bando de malucos escandinavos. Quem assistir esse filme por
acaso sem ter nenhuma informação sobre, vai jurar que foi feito nos anos 80. E
a idéia é essa, resgatar aquela tosquice e criatividade dos 80, sacaneando
todos os clichês da época e utilizando, inclusive, a mesma qualidade de imagem.
Muita crítica política, situações absurdas e personagens caricatos. Diversão
garantida em qualquer época, para todas as gerações.
Rodrigo Aragão já tinha causado grande
impacto com seu filme anterior, Mangue Negro. A utilização do gênero zumbis
mesclada com a cultura brasileira foi uma grande sacada, e somado a isso a
qualidade impressionante dos efeitos visuais, resultou no inevitável: Mangue
Negro se transformou em Cult e, consequentemente, A Noite do Chupacabras foi o filme mais aguardado
do RioFan. É uma grande satisfação quando vemos produções nacionais terem
esse prestígio. E o melhor que tudo isso não é elogio de Galvão Bueno, ou seja,
não é ufanismo barato. São filmes realmente bons; divertidos e de uma qualidade
técnica impecável, no mesmo nível de produções estrangeiras e com recursos
muito mais limitados. A Noite do Chupacabras sem dúvida atendeu às
expectativas. A história é bem típica de outros filmes do tipo monstro que caça
humanos, mas foi bem montada, apresentando algumas surpresas em seu desenrolar,
com muita sangueira e personagens bizarros. É o horror invadindo as paisagens
tupiniquins.