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SOU O QUE SEREI

domingo, 8 de novembro de 2020

AONIPUTOEMAS ?a202010


mais uma coletânea de aoniputoemas escrits entre ? e outubro/2020:



Colher velhas e quase esquecidas ideias

e transformar em aoniputoemas.

Civilização

onde todos se vendem

mas nem todos podem comprar.

Um sonho maravilhoso

sonhos são simples

você deita

dorme

e solta a imaginação

por que a vida não é assim?.

No início nada havia

e haveria de ser sempre assim

não fosse a força transgressora que ousou

quebrar aquela rotina

e algo se fez.

Algumas ideias repetidas

foi e será inevitável.

Que volúpia

que tesão

o casal de velhinhos.

O pássaro

desacostumado a voar livre

apenas cai da gaiola aberta

para tristeza da menina.

Começou com a criação do universo

terminou se tornando mais um rosto na multidão.

Acaricia e beija sua imagem no espelho

melhor sexo.

Cumprimentos efusivos na igreja

tempos depois passa por ele na rua

não o reconhece na sarjeta

dentro da igreja são todos irmãos... .

Tem passado muito rápido pelo estágio entre o sonho e o despertar total

o inconsciente e o consciente

assim não retém o sonho na memória

lembra apenas por alguns segundos do sonho

até esquecer completamente 

sabe apenas que sonho foi bom

e agora está de volta a deprimente realidade 

a agonia do completo despertar.

 Tô pedindo pra não ter que roubar.

 De manhã, corre para debaixo do chuveiro, um longo banho.

Suma daqui, cria maldita

e foi pra rua, onde aprendeu a viver. 

 1001 maneiras de enriquecer

 alguém já ficou rico depois de ler este livro?

sim, o autor.

    - O que é isso?

    - uma lista telefônica

    - entendi – (folheando) – eh como se fosse um site de busca, neh?

    coloca o HD nas costas e caminha tropegamente sob o dorso da grande fera faminta

o vale estéril começa a se tornar uma vaga lembrança enquanto é engolfado pela luz.

Natal, Páscoa, ou Carnaval, à escolha.

Ser escritor tem suas vantagens

decidiu não cortar mais o cabelo

nem pentear

nem roupas usa mais.

Na Bahia, em 1835, africanos muçulmanos, trazidos da atual Nigéria e escravizados no Brasil, se rebelaram contra a opressão.

A EXPERIêNCIA DO FORA, de Tatiana Salem Levy 

a escrita literária não representa o real, cria o real

o fora nao é o outro deste mundo, mas o outro de todos os mundos. 

a literatura é o fora

não se fixa a nada, nem a um espaço, nem a um tempo, nem a um sujeito

a presença da ausência

o irrealizado.

a literatura é a espera e o esquecimento

o que nunca sucederá e o que nunca sucedeu

nada ainda aconteceu e tudo ainda por vir

rumor, algo anterior a palavra e que nao é silêncio

o fora está além da dualidade dialética, além do bem e do mal, da situação e oposição, do amor e do ressentimento

morte do autor 

a morte do eu interior, do eu lírico

em Kafka, o sujeito está fora de si, fora do mundo

só quando alcança o Ele no lugar de Eu literatura alcança o fora

um discurso sem eu é discurso de todos de ninguém

mas o Ele nao é uma terceira pessoa

é o desconhecido o vazio

literatura menor, termo de Deleuze

não é o negócio de uma individualidade

mas de um povo

o sentido é sempre coletivo

não remete jamais a um sujeito

o fora não é uma generalidade mas uma singularidade

no espaço literário a palavra não tem proprietário

 pertence ao acaso

experiência do fora é promover encontros ao acaso

deixar as palavras fluírem livremente

Foucault: o enunciado e o visível sao sempre diferentes, cada tem suas próprias leis e autonomias, há entre elas uma não relação

Deleuze: a não relação é até mesmo uma relação mais profunda

Foucault: não se tem o poder, se exerce o poder

poder sempre difuso, espalhado nos corpos, instituições, discursos, etc

assim as relações de força caracterizam uma microfísica do poder

Deleuze: a exterioridade é uma forma, o fora diz respeito à força, são assim conceitos distintos

o saber composto por duas formas exteriores, o visível e o enunciável

 o poder composto por forças que operam no lado de fora

ontologias foucaultianas 

o saber o poder e o si, que sei eu? que posso eu? quem sou eu? 

Deleuze: há vários planos de imanência, plano onde se encontram todos os planos e multiplicidades, campo de coexistência virtual de todos os planos

 o fora ou o plano de imanência nos coloca diante do mundo e não em outro mundo

a literatura quando promove a experiência do fora, constitui um plano de imanência

o fora é virtual

mas real

virtual opõe-se a atual, não a real

se a arte é real, é porque é a atualização de um virtual, não a realização de um possível

experimentar o fora é experimentar o virtual e sua realização

criar é experimentar o virtual e sua atualização

 alcançar um plano de imanência povoado de virtualidades que nunca se separam de suas atualizações correspondentes

passado virtual de Deleuze, o passado que não representa algo que já aconteceu, e sim algo que coexiste consigo mesmo no presente

Deleuze, utopia imanente

 acreditar no mundo, no outro do mundo, arte e filosofia não devem projetar uma transcedência que nos tire daqui, mas se conectar ao nosso mundo

resistir, despertar o outro que existe em nós mesmos 

POR DENTRO DO FORA

a dialética acaba por manter o status quo

a oposição legitima a situação

pois objetivo da oposição não é evoluir a estrutura, mas pura e simples se tornar situação

 oprimido quer trocar de lugar com o opressor, o pobre quer se tornar rico, o infeliz pode até aceitar sua infelicidade se os felizes também se tornarem infelizes

luta da dialética é a eterna luta da troca

 análise biográfica de umx autorx para explicar seu texto empobrece demais aquele texto

pois não interessa o referencial do autor depois daquele texto estar concluído

o texto não pertence mais ao autor

pertence ao leitor

o texto só existirá a partir do sentido que o leitor lhe der

 a morte do autor ??? 

de Barthes

mesmo na primeira pessoa? 

análise da impessoalidade na primeira pessoa

que tal experiência do fora em Bukowski?

Borges já dissertava que uma mesma obra escrita em época diferente é na verdade uma obra completamente diferente

amigo imaginário

quem nunca teve um? 

a maioria das pessoas decidiu adotar o mesmo amigo imaginário, a quem chamam Deus

mas crianças são mais criativas e muitas vezes adotam outros

na infância tive um amigo imaginário chamado Alfredo

 era um camarada muito legal, o Alfredo, pois era confiável, e estava lá, ao meu lado

não me interessava se ele era alto ou baixo, ou se era sábio ou ignorante, mas apenas que era confiável, e estava lá

se me pedisse para descrevê-lo, poderia dizer apenas isso, que era confiável, e estava lá, sempre

não saberia dizer mais nada sobre ele

imagino que nosso amigo Deus seja assim também

o fora vs o oculto

Piglia e as duas histórias

a exterior e a oculta.

Os tuataras são os últimos sobreviventes da família dos dinossauros

conseguiram sobreviver enquanto demais dinossauros foram extintos graças a sua capacidade de desacelerar seu metabolismo

um ritmo de vida lento

conseguem assim passar um ano sem se alimentar conseguem resistir às piores condições e catástrofes

já o ser humano se vangloria por um ritmo de vida cada vez mais acelerado e mais desesperado

certo não ser sustentável

fadado à extinção sem dúvida

a não ser que de fato evolua.

Passa por galeria de arte

entra

ei como faz pra expor aqui? também faço umas merdas.

Tudo no chão

dorme numa colcha estendida no chão

O chão é o estado natural das coisas

animais não ficam colocando coisas encima de outras coisas

não precisam de mesas ou cadeiras

ser humano que inventou essa deturpação.

Esculturas de sombras de Adalberto Mecarelli

cálculos para luz do sol sobre obras formarem sombras artísticas.

Na chamada Administração Pública Patrimonialista, vigente no Antigo Regime, o aparelho estatal funcionava como uma extensão do poder do soberano

surgiu então o paradigma da Administração Pública Gerencial, ou managerialism, em governos de cunho neoliberal (Thatcher e Reagan)  e, no Brasil, pregado pelo PDRAE, no governo FHC

na verdade, pouca coisa mudou

mudou basicamente o nome dos soberanos

antes eram os imperadores, agora são os grandes empresários.

Democracia:

teve um tempo que mulheres não podiam votar

e era considerado democracia

negros não podiam votar

e era considerado democracia

atualmente temos o voto obrigatório no brasil

ou seja, a pessoa não tem o direito de não votar

que vote no menos pior, que seja, o que não pode é deixar de comparecer na festa da democracia

e isto é o que chamamos democracia. 

Pesquisa no Buscador Supremo da internet

estranho isso

o resultado tá diferente 

depois outra pesquisa

está errado isso

busca num livro e confirma

o Buscador Supremo está errado

reescreveu o conhecimento e os fatos e ninguém percebeu pois se tornara a única fonte de pesquisa.

Quando peste bubônica explodiu no século 14

pessoas acharam que era castigo dos deuses, ou magia negra, ou algo assim

só meio milênio depois acreditaram que tal devastação era causa de uma simples bactéria. 

Pessoas sempre preferirão ser temidas do que amadas.

Quero escrever coisas

que não tenham a mais remota possibilidade de sucesso.

Pessoas são engraçadas

você oferece ajuda

querem mais e mais

e mais e mais e mais

até sugar completamente sua energia

aí reclamam que você não está mais ajudando.

Pessoas e suas pequenices.

Escrever

pra que

se ninguém mais lê

se não for vídeo ou foto

ninguém mais vê

a existência humana agora

é colecionar seguidores e curtidas

e compartilhar vídeos e fotos

e mais vídeos e fotos

com tantos vídeos e tantas fotos

quem é que tem tempo de ler?.

Vivendo e se decepcionando.


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