BRAZYU Parte 1511

BRAZYU 

O PAÍS DO PASSADO 

A EPOPEIA DO RETROCESSO 

 

Parte 1511: Até que se prove o contrário

 

Preso. Suspeito de homicídio. Agressões. Ameaças. 

-Leia isso aqui! 

Olha o papel. 

-Em voz alta! - berram. 

-Por que? 

-Leia!, gritam ameaçadoramente. 

-Eu sou o assassino. 

-Muito bem. Temos uma confissão.  

-Ótimo. Está preso. 

-O que? Não! Eu só li o que estava no papel. 

-Você confessou. Está gravado. Acabou. 

Os Agentes argumentam que podem aliviar a situação se ele apontar o verdadeiro culpado. Se não fizer isso, será preso. Assassinato é trabalho forçado eterno nas penitenciárias privatizadas. Mas ele não sabe nada daquele crime, nem sabe o que aconteceu, simplesmente estava passando pelo local e foi abordado graças a cor de sua pele. A pressão continua por horas. Horas e horas. Não aguenta mais as ameaças e agressões. Sucumbe ao desespero e inventa um nome qualquer. 

-Foi o Sidinei.  

-Ei, eu conheço um Sidinei – afirma um Agente. - Com certeza foi ele, sempre o achei muito estranho.  

-Ótimo. Prende logo. Temos que resolver esse caso logo pra batermos nossas metas.  

Sidinei é preso e vai a julgamento. 

Puliça pressiona também testemunhas para dizerem o que querem ouvir, senão serão presas. Todos querem resolver logo o caso para baterem suas metas e não serem penalizados nas avaliações de desempenho. No tribunal, acusado protesta que nunca na vida havia visto a vítima ou as testemunhas, que no dia do crime nem estava na cidade.  

O Excelentíssimo Ynquisidor nem o olha na cara.  

-Vai responder só o que eu perguntar. 

Continua protestando. Esperneia.  

-Está preso por desacato. Guarda, leve.  

O Ynquisidor conduz então o julgamento de forma apressada, pois precisa bater sua meta de julgamentos, estabelecida pelo Tribunal. Pelo comportamento e cor da pele, não tem dúvida de que o réu é culpado. 

 Na prisão, acusado recebe a notícia de que será condenado. Autoridades o pressionam pra se declarar culpado, assim terá pena reduzida ou mesmo liberdade condicional. Acaba aceitando. É condenado sem condicional. 

O caso é assim resolvido e arquivado, transformando-se em mais um dado estatístico nos importantes indicadores de resultados.