Chamava
atenção aquele banheiro. Impecavelmente limpo. E naquela firma de tantos
funcionários. Gente entrando e saindo o tempo todo e entrando e mijando e
cagando e escovando os dentes e molhando tudo e jogando papel em qualquer lugar
e zoneando tudo e entrando e saindo o dia todo. Mas o cara da limpeza está
sempre lá. Sempre renovando o papel o sabonete e limpando as pias os mictórios
e as privadas. E assim o banheiro sempre limpo. Impressiona o trabalho do cara
da limpeza. Alguém sabe seu nome? Quanto será seu salário? Deveria ser o maior
da empresa. Mas certamente é o menor. É assim que funciona. Os trabalhos mais
árduos e mais essenciais são os de pior remuneração. O dia inteiro no banheiro.
Limpando a sujeira dos executivos que passam o dia em poltronas confortáveis,
no ar condicionado, em reuniões regadas a drinks, petiscos e risadas. Se o
pessoal da limpeza parar de trabalhar, a empresa para. Mas se os executivos
faltarem, a vida segue normalmente.
Considerando
a situação descrita, submetemos à elevada deliberação de quaisquer Vossas
Excelências por aí a seguinte proposta, em regime de urgência:
PROPOSTA DE REFORMA TRABALHISTA
Art. 1º O salário mensal, em espécie, do pessoal da limpeza e
serviços gerais será o teto remuneratório de todos os ocupantes de cargos,
funções e empregos de qualquer instituição.
Pronto. É
isso. Sim, só isso. A mais profunda reforma trabalhista já proposta em apenas
um artigo. Bastaria seguir esse único artigo para as coisas começarem a mudar
radicalmente.
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