Considero uma das mais brilhantes expressões da criatividade produzir
arte de onde não se espera que a arte flua. Nesses momentos nos damos conta de que
a arte está em todo lugar, em tudo, não é algo desconectado dos outros campos
do conhecimento, não é algo que deve ficar confinado em um canto e ser
produzida e consumida apenas por uma panelinha ou um grupo seleto. É
mágico quando descobrimos isso, passamos a enxergar o mundo com muito mais
profundidade, passamos a refletir além do óbvio, e a imaginar além das
verdades absolutas do racionalismo. A primeira vez que tive essa
revelação foi logo na infância ao me deparar com a poesia arrebatadora de
Augusto dos Anjos, recheada de termos científicos e a mistura inesperada de
palavras eruditas e vulgares, e com a criatividade absurda dos textos de Manoel
de Barros, uma poesia extraída e desconstruída literalmente de tudo que nos cerca.
E pude sentir essa magia no livro RETRATO DA FARMACÊUTICA QUANDO ARTISTA,
de Monique Brito. O título já diz tudo. Na verdade são retratos, não apenas um
retrato, de uma farmacêutica artista. Diversas composições sobre o ato de
criar, tanto versos no papel quanto produtos químicos no laboratório, sobre
cotidianos, impressões, preocupações, elocubrações, experiências. Cálculos e
emoções. A fusão da farmácia com a poesia. Ao final desse percurso literário podemos
questionar: ciência e poesia são tão diferentes quanto o senso comum tende a
considerar, cada uma ocupando seu lado isolado no hemisfério cerebral? Ou podemos
afirmar: ciência é poesia? Poesia é ciência?
Retrato da FARMACÊUTICA quando ARTISTA é mais uma obra que coloca a arte
em seu devido lugar: em toda parte.
Contato com a farmacêutica artista Monique Brito: farmaceutica.artista@gmail.com
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