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08 fevereiro

BRAZYU : Perseguição política

 



BRAZYU


Episódio de hoje: Perseguição política 



Coronel Filho herdou enormes latifúndios, terra que não acabava mais, uma fortuna que precisaria de mais uma vida pra conseguir gastar. Mesmo assim, queria mais. Muito mais. Invadia reservas florestais protegidas. Incendiava as matas e transformava tudo em pasto. Quando as autoridades questionavam, já estava tudo tomado por centenas de bois, não havia o que fazer. Coronel Filho patrocinava políticos para assegurar que a ilegalidade fosse legalizada, seria criminoso retirar todo aquele gado dali, um atentado contra a pecuária que gera tanta riqueza para o país, então um acordo era o ideal para a pátria. Não satisfeito, Coronel Filho invadia também as terras dos pequenos produtores da região, qualquer área de agricultura sustentável familiar virava pasto. Quem não concordava em ser seu vassalo ia pro cemitério. A ambição de Coronel Filho foi tamanha que, com o tempo, nem seu exército de deputados, senadores e vereadores conseguiram evitar que pelo menos alguns de suas centenas de crimes fossem investigados. A destruição ambiental é tranquila de se livrar, mas você exagerou nos assassinatos, diziam seus advogados. Mas há uma boa saída, você deve se candidatar nas próximas eleições. Coronel Filho gostou da ideia. Já era um SemiDeus, se virasse parlamentar, se tornaria um Deus completo. Poderia cometer o crime que quisesse, apenas a Suprema Corte poderia julgá-lo. E aí é fácil, é só articular o mesmo golpe que todos estão fazendo, dizer que a Suprema Corte está fazendo política e que é perseguição.

Saiu candidato pelo Partido FDP, Partido Família Deus Pátria. Contratou os melhores influencers do país. Seu apelido de campanha foi Coronel do Boi, conhecido e admirado por todos, um verdadeiro guerreiro patriota cristāo da terra. Ganhou fácil a eleição. Seus processos criminais ficaram ainda mais arrastados do que já estavam, agora que tinha foro privilegiado. Aproveitou pra apresentar várias propostas no parlamento, todas aprovadas facilmente e comemoradas pelos seus fanáticos seguidores: qualquer pasto passa a ser área sagrada e não pode ser questionada, não importa como o pasto tenha surgido; a merenda escolar em todas as escolas e creches deve ser formada apenas de carne, apenas carne deve ser alimentação de todas as crianças; veganismo passa a ser crime hediondo, nenhum produto vegano pode ser comercializado, sob a mesma pena do tráfico de drogas.

E quando seus incontáveis processos criminais entravam finalmente na pauta da Suprema Corte, a estratégia era aquela, muito simples, bastava postar nas redes pseudo-sociais que os Supremos estavam fazendo política, que o honesto e amado Coronel do Boi estava sendo perseguido. Afinal, havia sido legitimamente eleito e estava sendo impedido de defender os interesses da população. Pronto, seus seguidores idiotas faziam o resto, tocavam o terror e garantiam seu sossego. Coronel do Boi, mais um mito, mais um herói, mais um messias, mais um indispensável e intocável representante do povo.



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