Segunda:
O que é isso? Não pode ser real! Essa não é a minha vida! Crianças brincam, tantos sonhos, vendidos por uma mixaria. E agora a mente desorientada, mas as pernas sabem pra onde ir, me levam em passadas mecânicas. Não era isso. Quem me escolheu pra esse dia? Medo, muito medo.
Terça:
Idem.
Quarta:
Idem.
Quinta:
Idem, exceto... mas... por quê? Não, não quero. Me deixe. Sim, estou melhor agora. Abro a mente, viajo. Por que não me libertei antes? Sim, tudo vai ser diferente a partir de hoje.
Sexta:
Depois. Por aí. “Olha a loura preta um real. Loura preta um real.” Tomo duas. Adoro cerveja preta. Mais, mais. A região mais sórdida da cidade. Mesa ao ar livre. Gosto de contemplar a lua, ela é tão... tão... tão esférica, como pode? “Quer comprar uma bala, moço? Duas por um real”. Quero comprar sua bundinha, quanto é? Ela fica constrangida, desvia o olhar, continuo: quantos anos você tem? “Treze”. Te pago vinte reais, que tal? Ela resmunga qualquer coisa, de cabeça baixa. “Tenho que vender minhas balas”. Passo por uma rua deserta, ando no meio do asfalto, nada de calçadas, cabeça empinada, peito pra fora, braços balançando, olhar penetrante. Sou o dono dessa porra de rua. Um outdoor, garota-sonho-de-lingerie, anúncio de um fabricante de fraldas, acho. Uma porta aberta, escada pra cima, homens entrando. Não sabia que tinha um puteiro nesta rua. Veio na hora. Vou entrando, mas saio nem cinco minutos depois. Nunca vi putas mais broxantes, uma parecia o Jô Soares. Um boteco mais sujo que cu de elefante. Uma peituda gostosa me atende. “O que vai querer?” Seu decote. Puxa, como gosto do verão. Uma praça, várias pessoas reunidas assistindo uma apresentação, teatro de rua. Chego de mansinho por trás de um sujeito compenetrado na peça. Muita gente ao nosso redor. Tiro a carteira de seu bolso sem muita dificuldade. Outra rua deserta. Vejamos o que temos. Talão de cheque, uma nota de dez reais, carteira de estudante, RG, CPF, título de eleitor, comprovante de inscrição no concurso do TRE, cartão de telefone. Jogo todos os documentos no ralo do esgoto. A carteira com o restante enfio numa caixa de correio. Numa avenida, um traveco me aborda, mando tomar no cu. “Só se for agora”. Volto pra casa. Jogo a pasta no sofá, tiro o paletó, a gravata e o gel. Minha mãe ainda está acordada, assistindo TV. “É, estou sem sono hoje. É bom que podemos conversar, nem vi você esses dias. Como está lá o seu curso, de estratégia... como se chama mesmo?” Gestão estratégica de negócios, mamãe. Amanhã conversamos. Estou muito cansado.
Sábado:
...muito bem, risos, isso, ótimo, ótimo. Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha. Porra, porra, porra, PORRA!!! está definido. Amanhã vou me matar.
Domingo:
- .
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