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terça-feira, 13 de setembro de 2022

BRAZYU: UM FUTURO DE VERDADE


BRAZYU


O PAÍS DO PASSADO


A EPOPEIA DO RETROCESSO



episódio de hoje:


UM FUTURO DE VERDADE 



(este episódio continua a saga dos pitorescos personagens que vínhamos acompanhando no ep Para o futuro de volta , e eps anteriores)




Zero Dois caminha desolado pelas ruas de barro do futuro, ano 4579 d.c., a Nova Era Medieval, a grande maravilha resultante da nova política. De repente, percebe toda a plebe rapidamente se recolherem em suas casas. Um grupo de criaturas se aproximam vagarosamente pela estrada, seres carcomidos que apenas vagamente lembram seres humanos, se arrastando como uma massa de carne putrefata ambulante.


-Aquilo é… são…


-Sim. Zumbis. As vítimas da Nova Peste.


-Mas… não é possível… a Nova Peste voltou…


-Voltou? Ela nunca terminou. Está aí desde a sua era, há mais de 2000 anos. A humanidade decidiu que a economia não devia parar por causa da Peste e passou a aceitar conviver com ela. Ou melhor, con-morrer com ela, hehe, já que o destino de todos é se tornar zumbi. 


-Malditos. Malditos. Eu preciso de armas! Muitas armas! Pra destruir todos. Você tem armas?


-Na verdade, sim. Como te disse, sou um pesquisador da sua era, temos armas daquela época, faço parte de um grupo…


-Ótimo! É isso que preciso. Armas e um exército. Me dê logo essas armas!


-A propósito, você nem me perguntou, mas me chamo Melquizadebe, sou o.. 


-Foda-se seu nome. Me leve logo até as armas. Precisamos destruir esses zumbis comunistas e criar uma nova ordem mundial, faremos o mundo grande novamente. Eu e papai iremos… Espere. E papai? Onde está ele? Eu o coloquei também na criogenia.


-Ah, você se lembra. Sim, seu pai foi descriogenizado antes de você. O Grande Messyas. O Salvador. Há quanto tempo esperávamos esse momento. O retorno do nosso grande herói. Mas havia um grave problema. O Messyas estava contaminado pela Peste. Messias Zumbi. A alternativa que encontramos foi teletransportar sua memória pra um novo corpo. Deu certo. Deu mais que certo. Esse novo corpo não era qualquer corpo. Conseguimos simplesmente transportá-lo para o corpo de uma réplica de Jesus. Lógico, o verdadeiro Jesus, cabelos lisos e loiros, olhos azuis, pele branquíssima, não aquela imagem fake de Jesus que historiadores satanistas inventaram e tentaram propagar. Vou levá-lo até ele.


Assim, eles vão até um gigantesco castelo, que paira sobre aquela vila do alto de uma colina.


Ao se aproximar são logo cercados pela Neo Mylycya Evangélyca, o exército particular do Messyas.


-Olá, meus irmãos - se adianta Zero Dois - não se preocupem, sou um de vocês, sou o…


-Olha aí, o vagabundo maconheiro acha que é um de nós, só porque fala português antigo.


-Vamos mostrar pra ele a velha e boa recepção mylycyana.


Chegam assim já dando uma rasteira em Zero Dois, que desaba ao chão, então desferem uma saraivada de chutes.


-Esperem, parem, ele está comigo - intercede Melquizadebe e mostra seu crachá funcional.


-Tá ok. Podem passar.


Mas Zero Dois já havia levado tantos chutes na cara que desmaiou. Dorme profundamente. Dorme e sonha. Sonha com um magnífico cavaleiro montado em um majestoso cavalo branco. Na cabeça do cavaleiro, um diadema de ouro puríssimo, cravejado de diamantes, e com a inscrição "rei dos reis". Vestido em manto de linho finíssimo, branco e puro, onde esta escrito "o senhor dos senhores". Então Zero Dois percebe que está com os olhos abertos, desperto. O cavaleiro é real! O cavaleiro fala com ele:


-Meu filho!


-Papai? - balbucia, enquanto cospe um dente e se levanta com dificuldade.


-Sim, meu filho. Sou eu.


***


No castelo, sob uma farta refeição, bebidas e massagens servidas pelas escravas reais, o Messyas relata para Zero Dois como voltou à vida. Seu corpo foi descoberto pelo grupo de Melquizadebe, descriogenizado e transportado para a réplica de Jesus.


-Filho, não sou mais apenas o seu pai. Sou O Pai. O Pai de Todos. O Novo Jesus. Quando enfim acordei, ressuscitado, todos passaram a me idolatrar. O Messyas voltou. O Salvador voltou.


-Mas pai, esse mundo é uma bosta, não tem nem tuíter.


-Não, meu filho, aqui é o paraíso, sou o Rei dos Reis, sou Deus na Terra, posso ter o que quiser. Além de uma rainha, posso ter centenas de concubinas em meu harém, posso confiscar todas as virgens do reino para me satisfazer. Todos os tributos são meus para usar como quiser, sem prestar contas pra ninguém. Não existe STF, congresso, ministério público, tribunal de contas, nenhuma dessas palhaçadas. Todos os juízes são meus lacaios e me obedecem sem questionar. E o melhor de tudo, não existe imprensa esquerdista, a liberdade de expressão vale apenas pra mim. É uma maravilha. Finalmente o mundo se acertou. Agora posso cumprir o papel para o qual nasci. O Messyas. O Grande Salvador. Aquele que ressuscitou como Novo Jesus. Aquele que venceu a Nova Peste. O Imortal. O maior dos campeões. O Herói Eterno. O Senhor Supremo. Não se preocupe, meu filho, recriaremos a internet, faremos a internet grande novamente, construiremos um novo Zap, um novo Feissebuque, um novo Tuíter!!!


Empolgado, o Messyas se ergue, desembainha sua espada:


-Minha espada está afiada e pronta para decepar os inimigos. Sou o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores, o Libertador das Nações, minha espada destruirá de uma vez por todas a ameaça comunista. 


-Puxa, pai, estou emocionado, nem sei o que dizer.


-Não diga nada, meu filho, apenas se ajoelhe e me adore, como todos devem fazer.


Zero Dois se curva e faz uma prece de agradecimento: isso sim é um futuro de verdade…



(e continuará?)


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