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quinta-feira, 29 de abril de 2021

crônicas fisiológicas-sanitárias


CRÔNICAS FISIOLÓGICAS-SANITÁRIAS


Acordo num banheiro. Sentado na privada. Só eu e a privada. Nem imagino que banheiro é esse. Não lembro como cheguei aqui. Última coisa que me lembro… vejamos… caralho… lembro do casamento do Pedroca… porra, mas isso já faz tempo, uns 5 anos. Lembro da minha mãe, do meu pai, da tia Merilu, que fazia um delicioso croquete (não confundir com boquete). Putz, como lembro do croquete da tia Merilu.

Bem, aqui só tem eu, a privada e uma porta. Aperto a maçaneta, mas não giro. De repente me pergunto por que deveria sair? Pra onde vou? Voltar pra rotina de sempre? Por acaso minha casa era melhor que esse banheiro? Percebo que este sanitário é que é o meu lugar. Sim, aqui é meu lar, no meio da podridão humana consolidada. O mais verdadeiro dos ambientes. Onde as impurezas não estão maquiadas. Aqui ficarei.


Tomo Segundo


Quanto tempo passou? Sentado na privada. Nada a se fazer exceto cagar. A mais nobre das atividades humanas. O sentido da vida. Cagar. Mas não como há dias, acho, então nem cagar sinto vontade.

De repente, decido sair.

Abro a porta.

Não há nada lá fora. Sim, nada. Nada mesmo. Nada total. O vazio pleno. Só restou este sanitário.

Não podia mesmo ser diferente, tinha que ser esse o destino da humanidade. Nada mais além de nossas fezes e urina. Sempre soube que terminaríamos chafurdados em nossos excrementos.

Esta história termina assim… tudo termina assim… em merda.


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