O CIDADÃO DE BEM SALVANDO A ECONOMIA

 

Diários da pandemia:

O CIDADÃO DE BEM

em

SALVANDO A ECONOMIA

O Presidente decretou: a economia deve ser preservada, nenhuma atividade deve parar.

O lockdown, que já era meia boca, terminou de vez. O Cidadão de Bem foi pras ruas festejar:

-Vão se fuder, esquerdopatas! Eu não sou vagabundo, quero trabalhar!

Os manifestantes, além de festejar a reabertura do comércio não essencial, aproveitaram para exigir a imediata instauração de uma ditadura para deter os ditadores comunistas (????????). Também pediam a substituição da Constituição pela Bíblia como única lei a ser seguida e urravam ser patriotas que protestavam pela pátria, apesar de ostentar bandeiras de Israel e dos Eua.

O Cidadão de Bem pôde então finalmente retornar para seu importante trabalho na fundamental agência de turismo, que consistia em vender pacotes turísticos de luxo para milionários entediados. Ao chegar na agência, já havia uma multidão aglomerada, sedenta por consumir qualquer futilidade. O Cidadão de Bem passou a trabalhar 14 horas por dia para bater suas metas de venda, que dobraram, para compensar os prejuízos do lockdown, mas estava feliz, pois não é vagabundo.

Alguns dias depois, passou a sentir alguns sintomas, como dificuldades pra respirar, e foi encaminhado pela empresa ao médico. Após exames, diagnosticado o vírus. Mas Cidadão de Bem estava tranquilo, não era grupo de risco, tinha histórico de atleta, estatísticas mostravam que apenas 0,1% das pessoas do perfil dele tinham complicações. Porém, para seu azar, ele era um desses 0,1%, seu quadro agravou, e morreu. O Patrão não se abateu, imediatamente anunciou a vaga, que foi rapidamente reposta. De quebra ainda estava ajudando a diminuir o desemprego, cumprindo seu heroísmo social. O emprego estava salvo!