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Vladimir Kush
Passa horas na biblioteca, folheia incontáveis livros. Anda a esmo, olha as movimentadas vitrines do hipercentro. Caminha no parque. De volta ao carro, passeia por intermináveis avenidas. Sorri ao entrar em um engarrafamento. Aos poucos, a luz natural desaparece. Lojas e prédios cerram suas portas. A angústia irrompe em suas veias. Vai para o shopping, que só fecha às dez. Logo são dez horas. E agora? Um hospital. Entra timidamente e senta na sala de espera, como se aguardasse atendimento. Ali fica um bom tempo, sem fazer nada, sem prestar atenção em nada. Exceto no segurança. Que olha desconfiado em sua direção. Melhor partir. Volta pro carro. Olha para o relógio. Dirige sem direção. Um hipermercado 24 horas. Maravilha. O lugar é enorme, vários corredores, percorre todos eles. Pára de frente aos congelados. A gostosa brisa gelada do freezer. Um funcionário se aproxima: precisa de ajuda? Não, estou só dando uma olhada. E continua ali, imóvel. Seu olhar na direção dos iogurtes, mas não os vê. Sua mente está longe, perdida no limbo. Não sabe mais pra onde ir. Só tem uma certeza: não irá voltar.
É estranho quando se vaga pela internet e descobre em uma leitura agradável que alguém segue seus passos...Claro que sei que não é o caso, mas a graça é esta. Sem mentiras, durante algum tempo andei pela noite por hospitais, velórios e hipermercados.
ResponderExcluirO transeunte e seu vazio. Indiferença, desvio, alienação... as marcas da atual época.
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